Geralmente não é uma boa ideia dar slow-play com mãos fortes – pois você normalmente vai ganhar mais dinheiro jogando de forma direta (“fast play”) – mas há momento e hora para cada jogada no poker.
Nesse artigo, você vai aprender como identificar os spots em que um slow-play é mais rentável do que jogar de forma acelerada e spots o qual jogar indo direto ao ponto, colocando o máximo de fichas no meio da mesa, é obrigatório.
Vamos começar cada sessão com um exemplo que vai te ajudar a entender o que torna uma jogada melhor do que outra.
Bordos molhados são ruins para jogar de forma ardilosa
Online $2/$5. 6-Handed. Stack efetivo $500.
Hero está no BB com 5♥ 5♣
UTG folda. MP aumenta para $12.5. 3 folda. Hero da call.
Flop ($27.00): 8♠ 5♦ 4♠
Hero da mesa. MP aposta $18. Hero…?
O jogador da posição intermediária (MP) pode ter muitas mãos e semi-blefes de valor com uma boa quantidade de equidade, e todos eles pagarão um check-raise. Basta pensar em todos os overpairs (99-AA) e flush draws no range dele – por isso queremos começar a capitalizar colocando o máximo de dinheiro no pote contra essas mãos.
Além disso, há muitas cartas no turn que matam sua ação (qualquer 6, 7 e qualquer espada). Estas cartas permitirão que o seu oponente jogue de maneira muito eficiente com o range dele – ele irá dar mesa quando está atrás e apostar quando estiver na frente.
Você também tem diversos semi-blefes que se beneficiam jogando de forma agressiva, de tal maneira a equilibrar a balancear seu range de valor. Bons candidatos a semi-bluff incluem flush draws com potencial para sequência (T ♠ 9 ♠, J ♠ 6 ♠, J ♠ 7 ♠, Q ♠ 6 ♠, K ♠ 6 ♠) e gutshots com backdoor flush draws (T ♦ 6 ♦ , T ♦ 7 ♦ , J ♦ 6 ♦ , J ♦ 7 ♦ , Q ♦ 6 ♦ , Q ♦ 7 ♦ ). Estas mãos são melhores , isto é, mais rentáveis, quando são jogadas de forma agressiva (check-raising) do que de forma passiva (check-calling), já que de forma passiva muitas vezes voce não realizaria sua equidade e daria ao seu oponente a vantagem na maioria das cartas do turn:
- Em um turn “blank”, que não melhora nenhum dos ranges, ele pode colocar seus draws em uma situação difícil apostando alto.
- Em um turn que completa os draws, ele pode controlar tranquilamente o pote (ele provavelmente não apostará ases vermelhos em um turn 7 de espadas), o que significa que você ganha menos dinheiro quando bate o seu draw.
Por estas razões, 55 é uma mão que você quer jogar de forma agressiva neste flop na maioria das vezes. Um check-raise para cerca de $ 60 seria apropriado.
Apostas grandes e bordos secos são situações para dar slow play
Live $5/$10. 6-Handed. Stack efetivo $1000.
Hero esta no BB com 6♠ 4♠
2 foldam. CO aumenta para $30. 2 foldam. Hero da call.
Flop ($65.00): Q♠ 6♦ 4♣
Hero da mesa. CO aposta $60. Hero…?
Há três grandes diferenças entre essa situação contra o cutoff (CO) e a mão anterior:
- O bordo está muito seco. Não há muita interação entre as cartas (somente 6 e 4 estão conectadas, mas o CO não terá muitos straight draws em seu range que interajam com essas cartas). Nem são possíveis flush draws. Esta mudança na textura do bordo significa que há pouca necessidade de proteger a equidade da nossa mão.
- A c-bet do adversário é muito grande. Uma aposta alta nesse board normalmente representa um range polarizado que consiste, neste ponto, de mãos como top pair (por valor) e brocas, duas pontas e backdoor draws por blefe. Contra tal range, os softwares sugerem que uma baixa frequência de check-raise é a melhor estratégia. Isso faz sentido, porque há menos valor a ser extraído contra o range de valor dele que está mais apertado e queremos que ele continue atacando com seus blefes.
- Nossa mão é mais fraca. Isto é verdade não apenas em termos de força absoluta da mão, mas também em termos de força relativa da mão. Esta queda na força relativa é um resultado do nosso oponente indicando que ele tem um range polarizado (devido ao tamanho da sua aposta).
Estas 3 razões devem nos fazer querer sub-representar a nossa mão na esperança de que ele cometa erros posteriores – erros que ele não cometeria se jogássemos a mão agressivamente e aumentássemos.
Por exemplo, imagine que o CO tem AA nessa jogada. Ele provavelmente continuará na maioria dos turns e rivers e, a julgar pelo seu tamanho no flop, provavelmente usará grandes tamanhos de aposta. Então, ele apostaria em torno de $ 180 no turn e em torno de $ 500 (ou até mesmo todo o seu stack de $ 730) no river.
Mas, se decidirmos aumentar o flop para cerca de $180, ele pagaria e depois apostaríamos $300 no turn. A maioria dos jogadores provavelmente pagaria a aposta no turn, mas alguns apostam bastante. Digamos que ele da call. O pote no river será então em torno de $ 1.000 com $ 500 para trás. Quando shovamos, é provável que ele folde a mão devido à quantidade de força que mostramos ao longo da jogada.
Em outras palavras, o seu oponente médio ficará bastante confortável apostando três streets no ataque do que tendo que defender uma aposta grande. Isso varia, claro, de jogador para jogador. Contra um calling station que não aposta numa frequência alta, por exemplo, é melhor você dar check-raise no flop.
É prudente jogar de forma “ardilosa” contra os regulares agressivos
Nessa mão, seu oponente é um profissional agressivo que você viu atacando ranges capados – aqueles ranges que não possuem as mãos mais fortes. Especificamente, você o viu overbetando por blefe quando o raiser pré-flop deu check e o straight completou no turn (esta é uma estratégia relativamente popular usada por jogadores agressivos).
Online $5/$10. 6-Handed. Stack Efetivo $1000.
Hero está no BU com Q♠ 9♦
3 foldam. Hero aumenta para $25. SB folda. BB da call.
Flop ($52.00): J♠ 8♦ 4♣
BB da mesa. Hero…?
Temos uma broca e uma overcard, uma mão que normalmente deve fazer parte do nosso range de c-bet. No entanto, uma vez que estamos jogando contra um adversário muito forte e agressivo que entende a interação range versus range, devemos incluir esta mão em nosso range de check-back pelo menos em parte do tempo.
Quando acertamos a dama ou dez no turn, o BB terá muitas mãos de blefe com as quais ele pode aplicar pressão overbetando. E ele estaria certo em fazer isso, já que ele terá um range de valores ilimitado, enquanto nós não o temos (já que ele tem T9 e nós não, ou ele tem Q9 e nós não – então ele pensa).
É por isso que, ao dar mesa com essa mão, criamos uma contra-estratégia que neutraliza uma estratégia agressiva. Então, nós damos mesa. Agora, o que acontece no turn quando a carta dos sonhos bate?
Turn ($52.00): T♦
BB aposta $65. Hero…?
Para decidir se deve dar call ou raise é a melhor estratégia, precisamos pensar sobre o que pode acontecer no river. Você acha que ele continuará apostando no river em uma frequência alta? Ou você acha que a estratégia dele é blefar num único tiro (“one and done”)?
Se você acha que ele vai atacar, então a sua melhor linha é dar call no turn, deixá-lo blefar no river, e então dar tapa nele com um raise. Dessa forma, você extrairá o valor máximo de seus blefes e apostas de valor. Se você acha que ele vai desistir, então é melhor aumentar agora para negar a equidade de seus blefes (flush draws e high straight draws) ou extrair valor caso ele cometa um erro de call.
Conclusão
Em resumo: queremos acelerar nossas mãos fortes (trincas e dois pares) em boards molhados porque estaremos atacando com mãos que não tem pot odds diretas para darmos call (brocas e backdoors).
Assim, “entender as misturas e temperos” de uma decisão é um aspecto chave para se tornar um jogador de poker vencedor. Você precisa estudá-los fora das mesas e pensar profundamente sobre o que acontecerá nas jogadas futuras. Seu sucesso depende disso!
Isso é tudo para este artigo. Espero que tenham gostado e achado útil! Como de costume, se você tiver alguma dúvida ou comentário, use os comentários.
Até a próxima vez, boa sorte, grinders!
Artigo escrito por Dan B. para a Upswing em 4 de janeiro de 2019.
Traduzido e adaptado por Luigi Soncin, para a ROYALpag.