Tomando o PLOnge
É muito tentador fazer analogias entre mãos/situações de no limit hold’em (NLHE) e mãos/situações de Pot Limit Omaha (PLO)…
Mas algumas vezes tais analogias podem realmente fazer mais mal do que bem, e mesmo as melhores têm seus limites.
Isso ocorre porque tem muitos elementos do PLO que simplesmente não podem ser mapeados por analogias a NLHE.
Dito isso, há valor para um jogador em transição, tanto em aprender as analogias razoáveis tanto quanto é prudente entender por que as analogias não existem onde não existem.
Analogia #1: Grandes pares de PLO vs pequenos pares de NLH
Uma analogia útil entre PLO e NLHE é entre um par alto (KK-QQ) e um par baixo (55), respectivamente.
Em ambos os casos o valor do par não é irrelevante, mas o principal valor da mão é jogar para trincar.
Acertar uma trinca alta com KK ou QQ divide algumas propriedades de trincar com a menor trinca no flop no NLHE. É uma mão muito forte – atuais nuts no PLO e nuts efetivas no NLHE. No entanto, normalmente ele irá enfrentar um board onde tem que desviar dos draws com uma equidade significativa para ganhar um grande pote ou onde é difícil ganhar um grande pote.
Imagine esse (lindo) cenário no NLHE:
$1/$2 No Limit Hold’em Online, $200 stack efetivo:
Hero está no botão com:
A mesa roda em fold até o CO que aumenta para $6, Hero da call, SB folda, BB paga.
Flop (Pote: $19)
BB da mesa, CO aposta $15, Hero da call, BB folda
CO aposta $49, Hero da call $49
CO da all-in de $130, Hero da call de $130
Hero ganha $407 com trinca de 55.
Atolando a menor trinca contra um top pair é uma sonho clássico no NLH.
O equivalente no PLO é atolar trinca vs trinca um board não pareado ou com um full house maior vs full house menor em um board dobrado. Por exemplo:
…em um flop…
Além de mãos como estas, a melhor trinca está recebendo principalmente ação de draws fortes.
Agora, de volta a trinca de 5 no NLH. Além das mãos de par forte/dois pares, a menor trinca só recebe ação de um range forte de trincas mais fortes raras e alguns combo draws.
É evidente que um bom draw no Omaha tem mais equidade contra uma trinca do que um bom draw no Hold’em, mas a analogia ainda assim é razoável.
É importante notar que o que realmente estamos falando em casos de PLO cujo o componente da mão KK/QQ, já que as cartas laterais são claramente importantes.
Algumas mãos contém dentro de si um pouco mais do que possibilidade de trinca, como:
É quase sempre preferível jogar essas mãos de forma passiva em multiway pots, onde os nossas trincas terão uma melhor chance de serem pagas por mãos piores.
Mas a situação é diferente com outras mãos, como:
Aqui o valor da trinca de KK se junta com o valor de dois flush draws e um wrap (que é um straight draw com mais de 8 outs) e os componentes de draw aumentam o valor do KK como um par mais alto.
Esta é uma mão forte para um potes heads up seja com aumento único (single raised pots) ou em 3bet pots, com qualquer número de oponentes, e normalmente devemos jogar a força da mão de forma agressiva, uma vez que é muito robusta, isto é, mesmo que a força do range dos adversários aumentem – conforme aumentamos e 3betamos – a força desse jogo, a “energia” dessas cartas, se mantém sólida e quase que intacta.
Geralmente o problema de jogar apenas com par de K em PLO é que não tem muito valor de showdown, ou seja, se as ações rodarem em check-check até o river dificilmente vamos ganhar com par de K. Logo, sem a equidade originada por cartas laterais, a equidade crua do nosso par de K geralmente não é suficiente para carregar nossas fichas lucrativamente até o meio da mesa.
Por outro lado, mãos como KKQJds (ds = double suited) possuem um maior potencial para “atolar” (o stack inteiro) em em uma variedade mais ampla de flops, como 9c8h4h.
Analogia #2: Suited Connector no NLH vs mãos seguidas (rundowns) no PLO
Uma segunda analogia clássica é entre os suited connectors do NLHE e mãos conectadas do PLO, como (JT98 ou com um gap JT97/JT87/J987).
Embora haja um pouco de verdade aqui – particularmente no que diz respeito ao papel que essas mãos podem desempenhar para balancear nosso range de 3bet pré-flop – essa analogia geralmente é falha.
As cartas conectadas do PLO são simplesmente poderosas demais para serem mapeados legitimamente como suited connectors.
Vamos comparar duas mãos, uma de cada jogo:
JTs é indiscutivelmente o suited connector mais adequado – apesar de KQs/QJs terem mais valor de acertar top pair, o JTs é a única mão que faz quatro straights.
Mesmo assim, só irá flopar uma dessas sequências cerca de 1% das vezes. Ele também flopa um flush 1% dos flops, um flush draw cerca de 10%, e um draw de duas pontas cerca de 10% das vezes.
Enquanto isso, o JT98ss tem as mesmas frequências de flush e flush draw e o JT98ds tem o dobro. Ambos flopam sequência 5% das vezes, flopam um straight draw de 13 pontas ou mais (wrap around) 18% das vezes e um open-ender em 12% das vezes. Além disso, seus open-enders sempre vêm com dois pares, e a maioria dos wraps vem com um par.
Além disso, enquanto um par médio no flop é mais valioso em NLHE do que em PLO, a mão no PLO irá flopá-lo com muito mais frequência e também terá uma significativa equidade de backdoor.
JTs e JT98ds são excelentes mãos (e excelentes mãos de 3-bet) por razões parecidas…
… Mas no geral, o JT98ds é muito forteno PLO. O arquétipo para a distribuição de força da mão extremamente suave que é muito valiosa em PLO e simplesmente não é vista (ou realmente necessária) em NLHE.
Uma analogia um pouco mais válida seria comparar mãos naipadas com grande distância (em NLH) e mãos médias e mãos altas, double-suited, semi conectadas entre si, tais como:
A fraca conectividade da mão em PLO está próxima da parte inferior da lista em relação a esse componente, já que toda mão desemparelhada faz algumas sequências (note que os combos K/8 e J/6 são “auto-bloqueadores”, isto é, eles se conectam com o flop do mesmo jeito. Por ex: o KJ e o J8 seguem no board QT9. Logo, essa mão tem uma “cobertura de flops” menor. Assim como J8 e 86 travam a conexão no flop T97.
Da mesma forma, broadways no PLO como essa podem facilmente flopar dois pares altos e são análogos razoáveis de mãos broadway em NLHE que podem facilmente flopar top kicker forte de par. Tal como:
No lado do PLO, este é realmente um híbrido de flopar dois pares e flopar top pair com três kickers “vivos”.
Por exemplo: o AKQJ irá flopar dois pares 12% das vezes, e são sempre os dois mais altos. Isto é muito menos do que os 33% em que AK flopa top pair-top kicker, mas considerando o fato de que 40% das vezes AKQJ flopa top pair com 3 cartas vivas e possibilidades de straight e flushs torna a analogia um pouco melhor.
Outra área que merece atenção é a “coloração” (suitedness). É possível igualar o flush X-high em NLHE com algum exemplo no Omaha?
Surpreendentemente, a resposta é mais simples que isso.
Em um flop unicolor~monotônico, a probabilidade de um jogador específico receber o flush nuts é de 3,6% e a probabilidade de um jogador específico de NLHE receber um flush é de 3,8%.
No entanto, os flushes não-nuts e os flush draws não-nuts desempenham um papel significativo no PLO, e não há um exemplo análogo direto do NLHE para eles em termos de distribuição de frequências.
Isso acontece porque exatamente duas cartas são usadas no showdown em PLO, não existe um análogo para os flush draws da board de NLHE com três flushes. Isso torna possíveis boards monotônicos um característica bem estática, uma vez que a hierarquia dos flushs é fixa e apenas as trincas e dois pares tem algum tipo de draw.
Logo é razoável dizer que ter um Ás naipado em PLO no pré-flop é tão valioso quanto ter qualquer mão naipada em NLHE , e que ter dois high suits em PLO é um pouco melhor que ter um flush alto (que não seja nuts, como QTs) em NLH.
Porém pegar essa analogia e querer dizer como a mão vai realmente performar nos flops é um tanto quanto exagero.
Analogia #3: Combos draw fortes em ambos os jogos
Um último lugar onde é possível fazer uma analogia leve, mas não forte, são os combo draws.
Considere o seguinte flop:
É razoável ver similaridade entre…
Ambas as mãos estarão confortáveis jogando de forma rápida e agressiva, sabendo que temos uma boa equidade contra qualquer range de queira atolar, isso faz com que tais mãos sejam ótimas armas para gerar fold equity, isto é, para pressionar os adversários até foldar.
As “live cards” se comportam de forma semelhante, no exemplo do KQs e KQJ9ss no board JhTs4s. A questão é que, apesar de no Hold’em a mão ter menos outs, é também mais provável que os outs dos jogos que não são nuts (par de Q e par de K) estejam performando bem contra o range do adversário.
De forma mais específica, a analogia se divide de três maneiras principais:
- Mesmo que a mão no Hold’em enfrente um range que queira atolar mais fraco, o melhor draw de PLO terá sempre mais equidade contra um range PLO forte do que a melhor mão no Hold’em em uma situação espelhada, uma vez que existirão mais outs.
- Existem muitos mais tipos de combo draws e muitas outras combinações em PLO, especialmente em bordos mais molhados.
- O risco e o valor de estar com um draw dominado são muito mais relevantes em PLO.
Os kickers vivos contra um par são bons, e é possível encontrar JX de espadas, mas no NLHE não há muita diferença na board do JhTs4 entre KsQs, Qs9s e 9s8s.
Por outro lado, considere a enorme diferença no board PLO entre:
(wrap de 17 pontas, second nut-flush draw e top pair)
…e
(wrap de 13 pontas, quinto flush draw nuts e nenhum par)
Essa diferença existe precisamente porque muitas combinações acertam uma mão decente ou forte, de tal maneira que os ranges que tais mãos confrontam incluem muitas mãos parecidas.
A diferença da equidade da mão vs range no Omaha é portanto bem maior que a diferença entre um KsQs e 9s8s.
Resumindo: as analogias são como pontes que conectam o que você não sabe com o que você já sabe. Esperamos que ao longo do artigo você tenha aumentado sua visão e que você saiba agora as conexões e limitações de criar analogias entre Hold’em e Omaha.
Artigo escrito por Tom Chambers para a Upswing, em 14 de Fevereiro de 2017.
Traduzido e adaptado por Luigi Soncin para a ROYALpag.