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O que um jogador de elite pensa durante uma grande mesa final?

Muitos jogadores de torneios amam falar sobre as mãos que caem dos torneios.

Eles podem jogar dúzias de mãos interessantes ao longo de 10 horas, porém aquela última mão é geralmente a mão que você mais ouve falar.

Todos nós que jogamos poker já fizemos isso, porém essa atitude realmente perde o panorama geral da situação.

O que separa o jogador de torneios excelente para os jogadores medianos não é só como eles jogam as mãos que caem do torneio. É um processo de raciocínio que acontece em cada decisão, não importando quão simples ela possa parecer.

Neste artigo você está prestes a melhorar seu raciocínio examinando uma mão jogada pelo Nick Petrangelo na mesa final no torneio de $1.000 cujo primeiro lugar faturou $36.000.

Nick não aplicou um blefe de outro mundo ou fez um hero call difícil nessa mão, porém ele demostrou algo mais importante: o nível de análise que deve ser aplicado em cada decisão.

Detalhes da mesa final

A análise de uma mesa final nunca estará completa se não considerarmos as condições de ICM.

A estrutura de premiação com 8 jogadores restantes era a seguinte:

  • 1st – $36,249
  • 2nd – $27,403
  • 3rd – $21,484
  • 4th – $16,623
  • 5th – $12,862
  • 6th – $9,951
  • 7th – $7,700
  • 8th – $5,958

Entretanto, na mão em questão, existe um chip leader com 95bbs e dois stacks com 50bbs. Um stack de 34bbs e quatro short stacks com 21-24bbs (incluindo Nick com 24 blinds).

Como é o caso frequente de torneios com buy-ins altos e fields pequenos, os payjumps não são tão significativos até chegar nos top 3. Além disso não existe um único short stack com muito menos fichas que os demais, o que faz com que não haja tanta pressão de ICM sobre Nick.

Devido a tais fatores, Nick não precisa se preocupar muito com preservar seu stack e pode levar suas energias na direção de jogar para cravar!

Pré-flop

Nick recebe 6♥ 6♠ na posição intermediária e abre para 2bbs com um stack de 24bbs. O hijack 3beta para 5bbs deixando 45bbs para trás. A ação roda em fold e volta para Nick que paga.

Análise pré-flop

Com apenas 24bbs Nick deveria abrir um range mais tight do que se tivesse mais fichas. Entretanto, ele ainda pode abrir um range amplo o bastante por haver ante, o que adiciona um dead money extra no pote, quando comparamos com cash games.

Tais fatores considerados, 66 se encaixa no limite inferior do range de open nessa situação, sendo 55 o par mais fraco que ele abriria.

Aqui está o range de open do Nick do seu curso Winning Poker Tournaments:

Raise first in do MP com 25bbs. Esse é um dos mais de 250 ranges disponibilizados em seu curso, com várias profundidades de stacks, de raise, 3bet, 4bets, squeeze, blind versus blind e mais!

Quando seu adversário usa um size muito pequeno de 3bet, Nick pensa que ele está fazendo tal jogada com um range polarizado. Aqui está o que Petrangelo tem a dizer:

Ele provavelmente deveria dar all-in com seus 99, TT e jogar de flat call com 77, 88, e não acredito que ele estará 3betando linear com mãos como KQs, então esse range de 3bet é polarizado.

Em outras palavras, o hijack está 3betando com um grupo de mãos muito fortes (QQ+, AK, AQ) e balanceando tais mãos de valor com mãos de blefe como (A8s, K9s, etc). Mãos médias como AJs ou KQ não estão inclusas neste range, uma vez que tenderiam a jogar de flatcall.

Flop

Com 12,5bbs no pote, o flop vem 2♣ 6♦ 5♦.

Nick check, seu adversário beta 2,75bbs (22%) e Nick paga.

Análise do flop

Jogar de check-call com a maior trinca é muito melhor do que check-raise nessa situação, pois a proporção do stack em relação ao pote (SPR – stack pot ratio) é muito baixa o que faz com que ele não tenha muitos problemas para conseguir colocar o stack inteiro no meio da mesa no river. Além disso, jogar de check-raise fará com que o hijack fold suas overcards não pareadas, o que não acontece quando ele joga de check-call. Tal defesa passiva abre a porta para que ele continue blefando ou acerte um top pair.

Nas palavras de nick:

Desde que o range de blefe e grande parte do range de valor do hijack é composto por cartas altas não pareadas (AK, AQ, K9s, etc) quero defender dando call aqui. Isso não quer dizer que ele vai blefar, porém simplesmente queiramos deixá-lo continuar. Eu não acredito que ele atolará seu stack com A-high aqui. Com seus ace-highs de ouros ele deveria jogar de check numa frequência neste flop, então acredito que ele tem muito ace-high sem backdoor flush quando ele cbeta neste board.

Se o hijack tem um ace-high com backdoors como (A♦ K♣ ou A♣ K♣), ele provavelmente quer jogar de check back aqui, para não perder sua equidade quando eu jogar de check-raise. Pode não parecer muito, porém ter um backdoor flush aumenta em por volta de 3,5% sua equidade e te abre muita jogabilidade em streets futuras.

Isso significa que as mãos não pareadas que o hijack está cbetando darão snap-fold versos um check-raise. Logo, check-raise permite somente que o adversário atole seu stack com QQ+, porém isso vai acontecer de uma forma ou de outra no turn ou no river, a não ser que caia uma carta horrível.

Nesse cenário, não há muito mérito para dar check-raise aqui, então Nick paga.

Turn

O turn é (2♣ 6♦ 5♦) J♣ e o pote tem 18bbs.

Nick checka e seu adversário dá check atrás.

Análise no turn

Nick diz,

Eu não vou ter um range de lead aqui no J♣. Na realidade eu não vou liderar em nenhuma carta até o river. O valete conecta com algumas mãos do range de blefe do vilão, considerando que AJo seja um dos melhores blefes dele pré-flop. Talvez possa ter um J9s numa certa frequência, porém não acredito que tenha muito devido a minha posição (de open raise inicial).

Eu acredito que KJs joga de call pré-flop, porém ele talvez possa estar jogando com uma estratégia linear de 3bet, num estilo tight-agressive, o que neste caso KJs estaria no range numa certa frequência. Todavia, a maior parte é somente AJo ATo em termos de blefes pré-flop e alguns A8s, A9s.

Liderar neste valete não realiza muita coisa. Se o adversário tem QQ-AA ele provavelmente apostará. Se ele tem uma mão como AK ou AT ele checkará e daremos a chance de ele acertar uma carta no river ou blefar.

As únicas mãos que o adversário poderia ter que preferiria apostar contra seria A8s ou A9s que tem flushdraw. Todavia, são apenas 4 combinações o que torna a relevância desse lead menor, pois precisamos de muito pouca proteção.

(Por contraste, existem 16 combinações de AK e 6 combinações de cada par.)

Com menos que 1 SPR para trás, Nick pode colocar todas as fichas no meio da mesa no river, por isso não há sentido em liderar no turn. Então ele checka esperando ver outra aposta.

River

O river traz um A♥  tornando o bordo 2♣ 6♦ 5♦ J♣ A♥. O pote tem 18bbs e Nick tem 16bbs em seu stack.

Nick checka, seu adversário dá all-in e nick paga. Sua trinca de 6 é boa o bastante para dobrar em cima do AQo do adversário.

Análise no river

O check do Nick no river vale a reflexão.

O range do hijack contém muitos ases que agora se tornaram um par. AK e AQ são os mais óbvios, porém ele poderia ter outros (A8-A9s, AT-AJo, etc) dependendo das especificidades estratégicas do pré-flop.

Contra tais top pairs do river, checkar e apostar terão um valor esperado semelhante, uma vez que ambos pagarão quando enfrentarem um bet e apostarão quando enfrentarem um check. Em outras palavras, Nick não consegue errar contra um Ás no river – ele provavelmente dobrará não importa o que aconteça contra um Ás.

A chance de que o hijack tente blefar no river torna o check uma opção superior ao bet. Se ele tem K9s, por exemplo, ele nunca pagará uma aposta no river, entretanto ele provavelmente blefará para fazer Nick foldar uma mão como 77 ou J♦X♦.

Pedir mesa no river provavelmente perde algum valor contra alguns QQ e KK, especificamente (porque eles darão check mas talvez poderiam pagar uma pequena blocking bet) porém a questão é: quão frequentemente eles terão essas mãos? Quando ele checka no turn, nós podemos eliminar essas mãos do range do vilão.

Tais fatores tornam o check no river a jogada mais lucrativa e correta. Se o hijack alguma vez tentar blefar no river com mãos como 89s, check já se tornou a jogada mais lucrativa.

Na maioria das vezes, não importa o que Nick faça – se seu adversário tiver um A – todo o dinheiro irá para o meio da mesa. Entretanto, algumas vezes que o adversário blefa faz toda a diferença no longo prazo.

Pensamentos finais

Certa vez ouvi um jogador dizer:

Quanto mais entediante é uma mão,mais vezes ela acontece e, portanto, mais importante ela é.

Ele está certo. Apesar  dessa ser uma situação menos emocionante do que uma mão que caímos do torneio, são as pequenas decisões, como a decisão de pagar pré-flop a 3bet, que terão o maior impacto nas suas taxas de ganho!

É isso por hoje. Boa sorte dentro e fora das mesas!

 

Artigo escrito por Ernest Gorham em 13 de agosto de 2019 para a Upswing

Traduzido e adaptado por Luigi Soncin, para a ROYALpag.

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