Solvers são poderosos programas de computador que calculam as estratégias ‘ideais’ (chamadas de soluções) para situações que são criadas pelo usuário. Os solvers mais comumente usados são o PioSolver, GTO+ e Simple Postflop.
Os solvers mudaram o jogo desde que se tornaram comercialmente disponíveis em 2015, aumentando o nível do jogo consideravelmente.
As soluções dos solvers contêm muitos insights valorosos, mas como eles realmente funcionam? E vale o tempo despendido tentando lembrar tudo que o solver faz para que você possa replicar a estratégia do programa?
Este artigo vai te ajudar a compreender as respostas para estas perguntas importantes, e um pouco mais.
Como funcionam os solvers
Vamos começar analisando como um solver funciona em geral.
Resumindo, os solvers calculam a melhor estratégia com base em uma variedade de opções (dados inseridos) que são definidas pelo usuário. Estas opções são:
- Os ranges preflop de cada jogador
- As opções de valor de bet
- As opções de valor de raise
- Os stacks sizes efetivos
- O tamanho do pote
- Possibilidade de donk betting/leading
Estes dados inseridos tornam o resultado da estratégia do solver um tanto quanto abstrato. Em um jogo real de No Limit Hold’em, você não vai saber o range preflop exato do seu oponente. Além disto, você também não tem um número limitado de opções de valor/tamanho de bet/raise, e tomar a iniciativa leading é sempre uma opção. E mesmo assim, o solver baseia seus resultados tendo estas limitações como referência.
Você poderia dizer que os solvers na verdade não servem para o No Limit Hold’em. Mas eles funcionam sim para partes do No Limit Hold’em, e podem te ajudar a entender melhor a mecânica mais intrínseca do jogo.
Existe outro importante aspecto que é preciso ter em mente sobre o trabalho implícito dos solvers…
O solver funciona com a premissa de que cada jogador sabe a estratégia completa do outro jogador, do preflop ao river. O software se baseia na premissa (e também nas restrições listadas acima) de que o solver traz uma estratégia inexplorada (i.e. equilíbrio).
Portanto, se as soluções de um solver são abstratas, pra que servem? Este é o assunto da próxima seção.
O que pensar dos solvers?
O solver é igual ao gênio da lâmpada. Você consegue exatamente aquilo o que você pedir — nada mais, nada menos. Se você fizer o pedido errado (i.e., complicar seus dados de entrada), é provável que você não vai ter uma resposta útil.
Para obter resultados estratégicos precisos e úteis do solver, os dados que você inserir precisam ser o mais próximos possível da realidade. Quando você se atentar a isto, você deve tentar entender porque o solver joga alguns mãos da forma que ele sugere. (Ou pelo menos porque jogar uma determinada mão de uma certa maneira adiciona valor à estratégia geral).
Quando você entende porque o solver joga da forma que ele sugere, você vai começar a identificar padrões/conceitos. Como não é possível estudar cada flop, turn e river possíveis no solver, a internalização de padrões/conceitos que você estuda será fundamental.
Quais tipos de padrões e conceitos estou me referindo?
Contanto que você não complique os dados inseridos, eis alguns tipos de padrões que você pode aprender usando os resultados do solver:
- Morfologia do range de bet/raise (i.e., quais mãos são bet/raise).
- Frequências globais (i.e., a frequência de bet/check/etc.)
- Quais mãos devem ser jogadas com uma estratégia mista (e.g., check algumas vezes e bet nas demais situações)
Com estas informações em mente, é possível começar a explorar visando descobrir o propósito na jogada.
Por exemplo, em um outro artigo eu explorei quando fazer o check no flop com overpairs. Simulei várias situações e texturas de flop usando o PioSolver e descobri que o check em todos os flops conectados e medianos (tipo 9♠ 7♣ 5♥ ou 7♣ 5♥ 4♦) foi a ação preferida do solver com a maioria dos overpairs.
Este é o screenshot deste artigo, mostrando a estratégia de check a uma alta frequência com overpairs (botão vs big blind, pote com apenas um raise em um flop com 9-7-5):
Então, o que justifica a estratégia do solver?
Estes flops conectados são excelentes para o big blind, pois ele tem muitos straights e dois pares em seu range. O solver responde jogando de forma mais defensiva com os overpairs.
Além disto, os overpairs mais altos optam pelo check com maior frequência quando comparados aos overpairs mais baixos (i.e., AA tem mais frequência de check que JJ). Isto ocorre porque os overpairs mais baixos se aproveitam melhor da proteção, já que há mais overcards potenciais que podem surgir no turn.
Estes dois conceitos são verdadeiros na vasta maioria dos flops muito conectados e medianos. Este é um belo exemplo de como podemos descobrir tendência valiosas estudando um grupo relativamente pequeno de flops em um solver.
Conclusão
Para resumir (e caso você seja preguiçoso demais para ler o artigo inteiro):
- O solver não vai resolver as situações do No Limit Hold’em
- O programa vai te oferecer a resposta certa para a pergunta que foi feita (isto não quer dizer que a resposta é aquela que você procura)
- Os dados que você inserir devem ser muito próximos da realidade
- Foque em compreender porque o solver adota aquelas linhas de jogo
Até a próxima e boa sorte, grinders!
Traduzido e adaptado da UpSwingPoker por Alex Sal