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Como evitar um desastre ao se defender com uma mão fraca

Muitos de vocês já sabem que é preciso defender o big blind várias vezes em torneios, mas vocês sabem o que fazer em seguida?

Especificamente, como você aborda o jogo pós-flop depois de se defender com uma mão fraca?

É fácil se perder e cometer erros ao jogar uma mão fora de posição com a qual você não está acostumado a jogar, principalmente quando apostas e barrels começam a inflar o pote.

Você está prestes a ler 4 dicas que vão fazer com que seu oponente se arrependa de ter apostado baixo em seu big blind. Cada dica é acompanhada de um exemplo para ajudar a consolidar seu aprendizado.

Dica #1: Você não precisa continuar em toda situação

Não se sinta na obrigação de fazer check-call toda vez que conectar com o board depois de se defender com uma mão fraca. Você deve considerar cada situação individualmente e fazer a melhor decisão possível, que geralmente significa o fold.

As decisões em cada street são independentes entre si. Não tem graça fazer o fold no flop depois de um call lucrativo antes do flop, mas o fold não faz com que o call antes do flop seja menos lucrativo.

Na verdade, você deve geralmente over-fold no flop, de forma que seu range se torne mais competitivo no turn e no river (quando o pote é maior). Abrir mão do pote no flop é um pequeno preço que se paga para ter um range forte e competitivo nas outras streets.

Esta mão jogada por um membro da Upswing demonstra este conceito:

MTT online 9-Handed. Stacks efetivos de 32bb.

Herói recebe 6♣ 4♥ no big blind

UTG aumenta para 2,2bb. UTG+2 faz call. Todos os demais dão fold. Herói defende.

Flop (8,2bb): 5♦ T♦ 8♠

Herói check. UTG aposta 4,5bb. UTG+2 opta por fold. Herói faz o call.

Turn (17,2bb): 7♣

Herói aposta 4bb. UTG call.

River (25,2bb): Q♥

Herói vai all-in com 34bb. UTG faz o call e esconde K♦ K♥.

Análise do flop

Este é um caso de fold no flop por dois motivos:

Primeiramente, o range de c-bet do UTG deve ser forte em um pote com três jogadores. É pouco provável que o UTG vá fazer um c-bet light contra dois oponentes em uma textura de mesa tão dinâmica.

Se o UTG não acertou o flop com uma mão tipo AKo ou K♣ Q♣, é provável que desista. Portanto, podemos assumir que o UTG está apostando com um range forte para então fazer o fold com nosso gutshot straight draw.

Em segundo lugar, temos melhores draws para continuar. Existem vários drawsgutshots, open-enders e flush draws — em nosso range neste flop. Se continuarmos com todos, nosso range será muito fraco no turn em um pote inchado.

Continuar com 76 até QJ é provavelmente melhor neste flop, embora devemos considerar o fold com alguns draws marginais no meio-termo (e.g., J♥ 7♥). Devemos optar pelo fold com gutshots mais fracos (64, 74, 96), salvo se houver um backdoor flush draw.

Análise do turn

Apostar no turn faz sentido, pois o 7♣ é uma excelente carta para nosso range. Isto dito, apostar neste tipo de turn é uma estratégia complexa e difícil de ser executada corretamente.

Teremos que apostar com alguns blefes para equilibrar nosso range de apostas no turn, e fazer o check com mãos fortes para proteger nosso range de check no turn. Solvers são capazes de destrinchar estratégias complexas como a presente, o que raros humanos são capazes de fazer. A opção mais simples e ideal seria optar pelo check com todo nosso range no turn. (Falaremos mais sobre isto na dica #4.)

Análise do river

Como jogado, a overbet no river é válida. Nosso range é polarizado — temos uma mão muito forte ou um blefe — e o range de nosso oponente é medido baseado em um par. Como todas as nossas apostas por valor serão com dois pares ou melhor, podemos confortavelmente overbet por valor e esperar um call por mão mais fraca de forma bem frequente.

Dica #2: Cuidado para não blefar demais quando seu range tiver muitos draws

Quando seu range possuir uma infinidade de draws, é importante categorizá-los com muita cautela.

Apostar com muitos draws pode resultar em over-bluffing, o que pode ser explorado por seu oponente com calls marginais. Por outro lado, cada draw que você opta por check-fold pode significar o desperdício de uma potencial oportunidade.

Vejamos um exemplo.

MTT online 9-handed. Stacks efetivos de 93,2bb.

Herói recebe 9♥ 8♠ no big blind

5 fold. CO aumenta para 2,2bb. 2 fold. Herói defende.

Flop (6,1bb): 2♣ Q♦ T♥

Herói check. CO check.

Turn (6,1bb): 6♣

Herói aposta 4,4bb. CO fold.

Análise do turn

98 é para apostar tudo no turn. Temos muitos straight draws em nosso range, além de diversos flush draws, então devemos apenas apostar com alguns deles para evitar over-bluffing.

Eis uma forma razoável de categorizar nossos straight draws no turn:

•    Aposte com combo draws (4♣ 3♣, 9♣ 7♣, etc.) e com open-enders baixos (J9 e 98).

•    Opte por check-call ou check-raise com straight draws altos (KJ e K9).

•    Adote uma estratégia mista — aposte metade das vezes, check-fold metade das vezes — com gutshots médios (J8, 97 e 87).

•    Check-fold com os straight draws mais baixos (54, 43 e 53).

Trata-se de uma estratégia padrão sólida capaz de prevenir over-bluffing de nossa parte, ao passo em que gera a devida fold equity no turn. (Nota: Se soubermos que nosso oponente frequentemente faz o fold quando apostamos no turn, podemos explorar esta tendência apostando mais com gutshots médios.)

Análise do river

Analisamos o river de acordo com a carta que aparecer:

Se o river for uma carta de paus, por exemplo, devemos continuar blefando com straight draws incompletos que tenham uma carta de paus que possa bloquear o flush.

Se o river for uma carta que não completa nenhum jogo, ou brick, não termos uma carta de paus em nossa mão é ideal pois aumenta a probabilidade de que o oponente tenha um flush draw incompleto que quase sempre optará pelo fold.

Se o river trouxer um par na mesa, devemos ser cuidadosamente seletivos ao blefar, pois nosso oponente pode querer fazer o call depois de tantos draws perdidos.

Dica #3: Slow-play algumas mãos fortes para proteger seus ranges de call

Profissionais e amadores frequentemente fazem o fold contra apostas no river. Trata-se de um erro bem oneroso, pois na média o pote é maior justamente no river.

Há duas formas de remediar a frequência de folds no river:

Você pode optar pelo slow-play de mãos mais fortes no flop e no turn. Optar pelo simples check-call com pelo menos algumas mãos fortes em streets iniciais fortalecerá seu range e o tornará mais competitivo no river.

Opte mais por call light. Se você faz muitos folds substanciais no river com mãos tipo top pair, fazer o call mais frequentemente pode aumentar bastante a frequência em que você ganha.

É verdade, fazer o call em um river valendo muitas fichas com uma mão que não seja premium pode ser assustador, mas você precisa se acostumar com isto para poder competir com um público constantemente evoluindo no poker. (Nota: Se você tiver algum read confiável de que seu oponente não é um blefador, continue a fazer folds substanciais contra eles.)

Eis um exemplo de mão jogada por Doug Polk durante o WCOOP High Roller há alguns anos:

MTT online 8-handed. Stacks efetivos de 53,5bb.

Herói recebe 9♦ 5♠ no big blind

UTG fold. UTG+1 aumenta para 2,2bb. 5 fold. Herói call.

Flop (6,2bb): 9♠ 5♣ Q♦

Herói check. UTG+1 aposta 2,8bb. Herói aumenta para 9,4bb. UTG+1 fold.

Análise do flop

Check-raise com os dois pares mais baixos algumas vezes é aceitável, embora devêssemos optar pelo call para proteger nosso range. Há mãos mais fortes para fazer o check-raise, incluindo 99, 55, Q9 e Q5.

(Nota: Alguém poderia argumentar que, como 95 não bloqueia o top pair, esta mão funciona melhor que Q9/Q5 para um check-raise. As duas opções são válidas, contanto que não façamos o check-raise com cada combinação desta mão.)

Se fizermos o check-raise no flop com cada dois pares ou melhor, o topo de nosso range de call se torna dois pares. Será difícil fazer o call frequentemente contra as apostas com este tipo de range restrito.

Outra abordagem consiste em adotar uma estratégia mista — check-raise na maioria das vezes, check-call nas outras vezes — com todas as nossas mãos fortes neste flop. Esta estratégia é mais difícil de ser implementada corretamente, mas faz com que nosso range seja mais versátil e nos oferece maior jogabilidades nas streets seguintes.

Dica #4: Capitalize em cartas dobradas na mesa que lhe dão uma vantagem de range

Apostar no turn foi abordado na dica #1, embora executar uma estratégia de iniciativa lucrativa neste board (5♦ T♦ 8♠ 7♣) seja difícil. Você vai precisar equilibrar não só seu range de aposta inicial, mas seus ranges de check-call e check-raise, o que é bem difícil de se fazer.

Em turns que dobram a carta mediana ou baixa, nossa vantagem de range é suficiente para garantir tomar a iniciativa com apostas baixas com todo nosso range (ou quase todo). Esta estratégia de tomar a iniciativa e fácil de implementar sem precisar equilibrar três ranges ao mesmo tempo.

Eis outra mão jogada por Doug na WCOOP:

MTT online 8-Handed. Stacks efetivos de 23bb.

Herói recebe T♥ 5♣ no big blind

5 fold. BTN aumenta para 2,5bb. SB fold. Herói defende.

Flop (6,6bb): J♦ 5♠ 8♥

Herói check. BTN aposta 2,8bb. Herói call.

Turn (12,2bb): 5♦

Herói aposta 3bb. BTN call.

River (18,2bb): 6♣

Herói vai all-in com 14,7bb. BTN paga e esconde J♥ T♣.

Análise preflop e do flop

Se defender com T♥ 5♣ contra um amento do botão é aceitável. Entretanto, contra qualquer outra posição mais restrita, provavelmente devemos optar pelo fold considerando a substancialidade deste raise (2,5bbs).

O flop é uma situação clara de check-call. Com pot odds melhores que 3:1, bottom pair possui uma ampla equidade para fazer o call.

Análise do turn

O 5♦ nos turn dos dá uma grande vantagem de range, portanto abrimos com ~25% do pote com todo nosso range. O botão é altamente estimulado a dar o check de volta, pois raramente tem trinca (geralmente não apostaria bottom pair no flop), e nós temos muitas combinações de trincas (poderíamos fazer o check-call com todo bottom pair no flop).

Esta aposta baixa previne que nosso oponente faça o check se não apostarmos, e se ele fizer o fold, previne que realize sua equidade.

Análise do river

O river é um all-in fácil. Armadilhas não são necessárias quando temos menos que o valor do pote para apostar. Podemos balancear nosso range neste river também optando por all-in com straight draws incompletos.

Breve recapitulação:

  1. Não se sinta na obrigação de continuar toda vez que acertar algo no flop
  2. Cuidado para não blefar demais quando seu range tiver muitos draws
  3. Slow-play algumas mãos fortes no flop para proteger seu range de call
  4. Quando tiver vantagem no range, se aproveite da situação

Esperamos que estas dicas melhorem um pouco a sua taxa de sucesso no big blind.

Se ainda não estiver à vontade com o raciocínio envolvido para jogar mãos tipo 6♥ 4♠ depois do flop, sugiro que você jogue torneios com buyins mais baixos para que você possa ganhar experiência com baixo risco para seu bankroll.

Você vai se deparar com oportunidades para poder implementar as estratégias que aprendeu hoje e em breve estará se coçando para defender seu big blind com praticamente quaisquer duas cartas.

É tudo por hoje. Se cuidem!

Traduzido e adaptado da UpSwing por Alex Sal.

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